Joana

No caminho de todos os dias busco amoras maduras para adoçar o dia de maus humores.
Amora não encontro. Encontro amores em olhares perdidos. Encontro a fome, a falta de vontade e a Joana pequena.
Pousa em meu braço esquerdo a Joana, assustada quero espantá-la, mas quando olho bem e descubro suas pintinhas, não vejo um inseto, vejo toda minha infância.
Vejo quando no verão íamos ao clube e as Joanas ficavam perto da piscina, como que caçando novas aventuras. Eu as buscava, as impedia de ultrapassar meus dedos e, quando neles elas subiam, era uma pequena grande aventura que começava. Eu a investigá-la, ela a se divertir de dedo em dedo, de galho em galho, até que a liberdade a tomava por inteiro e suas asinhas batiam e, sem se despedir ia embora a Joana, procurando outro dedinho de menina para brincar.
A liberdade das Joanas deve ser como o máximo dos prazeres humanos, ou mais. Irresistível vôo sem rumo, incansáveis mil batidas de asas.
Acreditei, certa vez, que as Joanas são incumbidas de ser brinquedo de criança quando brinquedo não há. Depois esqueci.

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