Quando era menor, minha avó ia a feira com seu carrinho de metal. Às vezes eu a acompanhava com muito medo de me machucar naquele carrinho. Ir a feira era cansativo. Quando chegávamos, logo vinha o cheiro do peixe fresco, seguido pelo dos queijos. Eu gostava de olhar os vidros de conserva. Era pimenta, doce caseiro e meu reflexo em todos eles. O que cansava mesmo eram os encontros da vovó. Sempre vinha alguém falar com ela, perguntar da vida, contar os casos e fofocas e isso não podia levar menos de meia hora. Como suportar ficar parada em meio as mangas e laranjas sem poder fazer nada divertido o bastante para me distrair por meia hora? Era chato. Mas a lembrança é a mais gostosa do mundo.
Gosto de pensar que quando chegávamos em casa e a vovó ia abrir o mamão, eu ficava louca e vidrada com a estrela que aparecia no meio dele. Não entendia como podia uma fruta transportar tão linda forma.
Era assim toda quarta-feira que passava as tardes com a vovó. Erámos companheiras e nossa paciência ia até a feira e voltava, suportava treinos de tabuada, redações, histórias antigas e receitas gostosas. A vovó me ensinou a cumprir as promessas, a chegar na hora certa, a perdoar, lutar e a procurar estrelas dentro dos mamões.