rabisco e apago.
essa brincadeira me toma horas...
tenho a vontade de correr, de voltar, de chegar até o final.
onde encontro o final desse rabisco?
apago.
onde vai morar a coragem quando a noite chega?
a noite, a coragem, o espelho, o caminho..
um monte de rabiscos que se juntam na mesma folha branca - que de rabisco em rabisco branca já não é.
quando a borracha e a mão firme
descombinam, a folha se machuca e a cicatriz fica fazendo parte do que antes era só branco.
das coisas que eu sempre mais gostei a que eu me lembro mais é a cicatriz.
amo a marca branca no meu dedão de quando subiu a bolha da cola quente,
a parte mais escura da minha canela de quando escorreguei na escada,
e o pequeno vergão na minha coxa de quando tentei surfar com uma prancha de bico quebrado.
das poucas lembranças que guardo, dessas que as vezes relembro - e sou dessas que passa rápido, que esquece de lembrar e prefere gastar o tempo com as coisas de hoje - estão todas estampadas na minha pele. nessa tatuagem que a vida fez de graça e olhando através delas vejo como se fosse por uma janela, a lembrança passando........e passando.
rabisco e apago.
das lembranças se faz o que quer.
das cicatrizes trato bem, cuido, dou beijo, carinho. o que vejo nelas sou eu mesma, não as lembranças.