Gaua está cercada de água, como eu.
tem dentro dela um vulcão enlouquecido, que bufa com razão. Como eu.

Se o vulcão resolver botar pra fora, Gaua morre. Se parar, Gaua também morre.
O povo vive do calor do vulcão de Gaua.

Como eu, Gaua espera que o vulcão não enfureça, mas sabe que sem ele nada é.
Sou como Gaua.
Buscamos dia-a-dia agradar o vulcão e viver por ele para que nem eu, nem Gaua viremos cinzas e fumaça.

rabisco e apago.
essa brincadeira me toma horas...
tenho a vontade de correr, de voltar, de chegar até o final.
onde encontro o final desse rabisco?
apago.

onde vai morar a coragem quando a noite chega?
a noite, a coragem, o espelho, o caminho..
um monte de rabiscos que se juntam na mesma folha branca - que de rabisco em rabisco branca já não é.

quando a borracha e a mão firme descombinam, a folha se machuca e a cicatriz fica fazendo parte do que antes era só branco.

das coisas que eu sempre mais gostei a que eu me lembro mais é a cicatriz.
amo a marca branca no meu dedão de quando subiu a bolha da cola quente,
a parte mais escura da minha canela de quando escorreguei na escada,
e o pequeno vergão na minha coxa de quando tentei surfar com uma prancha de bico quebrado.
das poucas lembranças que guardo, dessas que as vezes relembro - e sou dessas que passa rápido, que esquece de lembrar e prefere gastar o tempo com as coisas de hoje - estão todas estampadas na minha pele. nessa tatuagem que a vida fez de graça e olhando através delas vejo como se fosse por uma janela, a lembrança passando........e passando.

rabisco e apago.
das lembranças se faz o que quer.
das cicatrizes trato bem, cuido, dou beijo, carinho. o que vejo nelas sou eu mesma, não as lembranças.