Querido.
A memória é um instrumento doido
que a natureza nos deu. Me deparo às vezes com as lembranças de um tempo
antigo. É como se num quebra-cabeças diário algumas peças fossem se mostrando
parecidas e fossem se encaixando para me mostrar imagens que guardei em uma
caixinha preta escondida no lugar mais obscuro da minha mente.
Hoje foi assim, sentada no sofá,
conversando sobre coisas banais e me dá um estalo e me vêm à mente as imagens
do seu sorriso, da sua alegria contagiante e do seu mistério que condena meu
coração. Vêm também aquelas das quais quero me proibir de lembrar, porque me
dão saudade, porque me lembram do quanto pude ser eu mesma perto de você. Essas
lembranças repentinas mudam o rumo dos meus dias e das coisas que faço ou
imagino fazer. Indiretamente, o lampejo do acaso das lembranças suas que cabem
a mim, me faz voltar no tempo e pensar quem fui e em quem tenho me
transformado. E me alegro em perceber que tenho tentado ser melhor, mesmo sem
saber muito o que melhor pode querer
dizer.
Mas não se preocupe, querido. As
lembranças suas logo me levam à outras, de outras gentes, de outros tempos e
logo me esqueço outra vez.
A memória é um instrumento doido que a natureza nos
deu.
Beijos meus. Estes que já foram
seus.
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