Os pés matam, o mundo se apóia em suas costas, o suor incomoda o corpo todo e torto se vai o monte de carne pelas ruas. A roupa rota, o sapato sujo, a terra nas barras da calça. O corpo parou, olhou e atravessou em minha frente. Era vermelho. Vermelho e roxo. Porque tão forte? Porque tão cruel com os que o viam?
Era o dia mais quente daquela era. O dia mais raro, sem sentido e sem pudor.
Passou também a mulher com a camiseta amarrada na testa. O sutiã a mostra. A renda cinza podre. O fecho pela metade. Até onde duraria? Ela queria atravessar a avenida da morte. Estava louca. E também tinha cansaço no olhar.
Esse é o troféu dos fracos. O cansaço. É tudo o que eles tem. Os fortes vêem até na fadiga a gostosura de viver. Eles querem, amam e lutam. E não importa quantos litros de água necessitam, ou quantos quilos de comida precisam para sobreviver. Eles vão até o fim. São fortes. Morrem e renascem todos os dias. São moribundos ao avesso. São a vida e dão vida a tudo que tocam.

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