Equilibro meu corpo sobre uma linha fina, pendurada bem alto entre dois prédios. meus pés se esforçam para que a falta de estabilidade não os faça perder a linha.
de um lado vejo pessoas chegando. do outro, vão indo.
e eu caminho sobre essa linha fina. me equilibro, tento ser mais leve. não quero que a linha se arrebente.
do lado dos que vão embora vejo sombras levando mochilas pesadas, mas muito fáceis de carregar. do lado dos que chegam, tem sorriso, abraço e alegria por ainda ter muito tempo pra encher a bagagem vazia.
eu sou caipira porque, se prestar atenção, tenho cheiro de terra, cachaça e restilo.

Às vezes é o lugar do sem dono, do abandono diário, da falta de tato. Às vezes o lugar da surpresa, do toque profundo, da descoberta de portais entre lugares, entre pessoas. Sempre é diferente.

DESPEDIDA

De fato, os momentos vão passando como se fossem eternos. As nebulosas cenas, quase passadas em sonho, se mostram reais, insustentavelmente.
Os abraços duram para sempre no sempre que fica preso a cada segundo. Se repete e repete infinitamente na alegria ou na agoniante sensação de eternidade da vida. Imagino a morte como uma grande saudade que o corpo não suporta e se esvai.