a cidade me engoliu.
entre percepções têxteis - a velha história de que corpo sempre está vestido na cidade, experiências corporais, trajetos sem destino. ela engoliu.
sua garganta trêmula, seu vento sujo. ela me devora lentamente, uma cobra que come um boi e leva tempo pra digerir tudo. foi assim. estou ali sendo digerida. ainda. nem percebi.
primeiro eu estava sentada em um banquinho de plástico numa passarela.
mulheres lindas, roupas de seda, cabelos impecáveis, salto alto, maquiagem.
depois a passarela chacoalha ao som dos chinelos gastos, da pressa das multidões que passam. o som dos carros lá em baixo. e 'olha o chip, 5 reais!'. ambulantes ambulam. eu insisto.
a cidade me engoliu.
um garoto dança breake, o outro canta funk e a passarela volta a ser espetáculo.
o barulho, os corpos passando, a tremedeira da base. tudo vira cenário.
as mulheres de salto viram meninos de chinelo.
e eu lá dentro da cidade. dentro de mim. não paro de pensar, de dar voltas em cima do banquinho.
insisto.
ela me engole.
eu fico.
passarelas. todas iguais. (?)
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