Corpos robustos cercados por uma pele lisa e intensamente negra enchem suas areias brancas. Vejo contrastes por todos os lados.
Passa uma ambulante - ela vende saídas, é negra, bem negra - peço para ver uma canga, invento essa aproximação, quero tocar a pele da moça. Me levando para, supostamente, ver e sentir os tecidos e as estampas, mas o tecido que me interessa ali é sua epiderme - tão robusta quanto ela.
Entre uma pergunta e outra rimos por um comentário divertido, percebo minha chance, aproximo rapidamente minha mão, meus dedos e, finalmente, toco seu braço como que para completar o riso. Sinto sua força e delicadeza na pele mais macia que já toquei. Inesquecível!
Driblo suas ofertas, invento não gostar de estampas e cores, ela vai embora. Eu já conquistei o que queria: a sensação, o toque, o momento.
Fico ali tocando meus próprios dedos, sentindo minha estratégia egoísta de aproximação e dispensa.
Olho seus corpos negros. Quando deitam na areia, levantam de outra cor.
Eu sou da cor da areia, não posso ser camaleão.
Mexico, 2007 - se encaixa perfeitamente no agora...
Se soubesse contá-los, quantos seriam?
A cada pessoa que vejo, um mundo, a cada tempero que provo, um outro, e a cada passo que dou, saio de um, mergulho num novo.
Cada cheiro, cada cor, cada som.
Meus sentidos se apaixonam segundo a segundo e mudo de mundo, sempre por amor.
Tudo que me leva de um mundo a outro é tão frágil, tão dolorido, tão forte e tão sem dor.
O que me transporta, minha ponte de açúcar e papel é a saudade e, numa chuva de lágrimas, se não me cuidar, perco a ponte e me afogo num mundo em que ninguém sabe chegar..
Salvador, BA - 08/fev
Penso em como são bonitas as mulheres daqui. As negras, mulatas e quase brancas, com seus rostos imponentes, sua típica ação cheia de atitude. Intimidadoras, mas cheias de simparia. Que dualidade instigante, contradizente!
Como são belas subindo e descendo as ladeiras em estampas multicoloridas.
Frente a seus cabelos - crespos assumidos, mas muitas vezes bem penteados, trançados, ousados, liso perde completamente a graça. Perto delas sou sem charme, feia, branca aguada. No mundo beleza é o que não falta!
Sinto nas ruas o calor que emana também das pessoas.
Estou mais lenta, penso as vezes com sotaque, ainda me perco pelas ruas e não sei identificar local ou pessoa perigosa.
Sou de longe, não entendo as palavras, a rapidez das frases e o ritmo do povo. Não entendo, mas gosto!
Sou uma pequena aprendiz dessa cidade que, como suas mulheres, vive se contradizendo.
Caos e tranquilidade convivem em meio ao cimento e o mar.
Negras parrudas caminham pela caótica e surpreendentemente tranquila Salvador.
Ps.: mar e saudade são amantes.
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